Tulipa: uma de minhas cantoras preferidas de todos os tempos, da nova geração. Segue abaixo uma entrevista que fiz com ela em julho deste ano, para o A Redação:
Tulipa Ruiz: "Quis inventar meu próprio gênero"Goiânia, 9h30. O telefone toca e, do outro lado da linha, a voz imponente de Tulipa Ruiz aparece. Quem está acostumado a ouvir as músicas meigas da cantora ficaria assustado com o timbre forte da voz ao telefone. Ela tinha acabado de desembarcar no aeroporto da Capital e estava no meio do caos que é aquele Santa Genoveva. Pelo barulho de fundo ouvido no celular, o local estava cheio. Entre gritos e cochichos paralelos, a cantora de MPB mais comentada do momento concedeu entrevista à Redação, que fez de tudo para não ser clichê e, assim como os outros veículos de imprensa, cair de amores pela artista. Mas não deu. Tulipa Ruiz é tudo aquilo que você ouviu falar: doce, educada, bem humorada e talentosa.
A cantora se apresenta hoje à noite no Campus II da Universidade Federal de Goiás, às 22h30. A apresentação faz parte da programação cultural da 63ª SBPC, com curadoria feita pelas produtoras A Construtora Música e Cultura e Pandarus Música. Antes de Tulipa, os goianos De Volta ao Samba, Passarinhos do Cerrado, Vida Seca e Grace Carvalho se apresentam no palco montado especialmente para o evento.
Depois de tanto esperar pela vinda da artista paulista, Goiânia vai poder finalmente matar a vontade que está longe de ser efêmera. A cantora teve um bom ano em 2010: foi eleita como o melhor show pela Folha de S. Paulo e o melhor disco pela Rolling Stone. A revista também colocou o primeiro álbum da artista, Efêmera, como um dos melhores da década. Nesta entrevista, Tulipa conversou sobre seus desenhos, família, a comparação com Gal Costa e as novidades que vêm por aí.
A Redação - Você é uma verdadeira artista. Além de cantora, é também desenhista. Seus desenhos são vendidos nos shows e há muita procura por eles. O que começou primeiro na sua vida? A pintura ou o canto?Tulipa Ruiz - Na verdade foi o desenho. Comecei a pintar quando era pequena. Ficava pensando em desenhos para capas de disco. Achava que o melhor trabalho do mundo era pintar capas de discos!
E como é a divisão do tempo entre essas atividades? Você dedica um horário específico para cada uma ou é espontâneo?É espontâneo. Varia muito. Alguns dias eu canto mais, outros eu pinto... Não há uma hierarquia. Às vezes eu canto e fico com vontade de fazer um desenho para a música. Depende muito do momento.
O seu pai, Luiz Chagas, e seu irmão, Gustavo Ruiz, fazem parte da sua banda. Como é trabalhar com família? Facilita ou dificulta as coisas?No meu caso facilita muito! Meu irmão que produziu o disco, os dois tocam comigo. Pra mim é muito bom! São eles que me entendem musicalmente. Eles que tocam a minha música.
Sua mãe parece fazer questão de ir aos seus shows sempre que possível também. No Dia das Mães ela foi para Brasília assistir uma apresentação sua.Mamãe coruja! (Risos) Ela mora em São Lourenço, no interior de Minas Gerais. Então não é sempre que dá pra ela ir. Mas quando é possível, ela faz questão de acompanhar.
Você define seu estilo musical como Pop Florestal. O que é isso?É uma brincadeira com todos os gêneros, na verdade! Uma brincadeira com essa coisa de ter que categorizar a música. Isso aconteceu quando chegamos no momento de definir o nosso gênero musical. Ficamos na dúvida do que colocar, porque, na verdade, o gênero é mutante. Fiquei com medo de, ao escolher uma palavra, limitar o meu trabalho. Aí eu quis inventar meu próprio gênero, que é o Pop Florestal. O termo brinca com a alternância entre São Paulo e Minas Gerais, a cidade do interior e a cidade grande.
Uma de suas primeiras bandas foi a Pochete Set. Seu pai e seu irmão também fazem parte dela. Qual a diferença entra ela e sua banda atual, já que os integrantes são quase os mesmos?A Pochete Set é mais a cara do meu pai. Ele que compõe na banda. Fora isso, o baterista é o Gustavo Sousa, que também toca com o Cérebro Eletrônico, e o baxista é o André Bedurê. É diferente da minha banda. É outra onda.
Em outra entrevista, você disse que depois de ter completado 30 anos, seu jeito de fazer música mudou. Mudou em quê?O olhar sobre as coisas de modo geral. Fazer 30 anos muda tudo. Você não tem mais pressa de fazer as coisas, fica mais objetiva.
Ainda falando de mudanças, você já confessou que a artista Meredith Monk também a influenciou bastante e alterou o modo como você enxergava a música. Como foi isso?Eu gostava muito da Meredith e fui num show dela. Fiquei muito tocada com a apresentação. Foi lá que entendi que o palco é um lugar sagrado.
Algumas pessoas comparam você a Gal Costa, pelo timbre da sua voz. O que acha dessa comparação?Acho que comparar é uma necessidade do ser humano. Não tem como não comparar as coisas. E entendo essa opinião, já que a Gal Costa sempre foi uma referência para mim.
Você é amiga de ótimas cantoras dessa nova geração, da qual você também faz parte, como a Céu, Tiê, Thalma de Freitas... Algumas inclusive participaram da gravação do Efêmera, fazendo os backing vocals. Como é trabalhar com gente tão talentosa e que, assim como você, conquista cada vez mais o público e a crítica?É muito legal! Essa mulherada toda tem feito um ótimo trabalho! E além de nos conhecermos, a gente se curte. Gostamos do trabalho umas das outras.
A faixa Pedrinho é realmente uma música entre dois homens?É. Fiz pensando num eu-lírico masculino, num amigo, na verdade.
Efêmera tem pouco mais de 1 ano. Você já está trabalhando em outro disco?Vamos começar a trabalhar no próximo disco a partir de janeiro. Ele só será lançado em 2012.
E esse segundo disco já tem algum nome?Não faço ideia!
Em março deste ano você fez uma turnê pela Europa, passando pela França, Inglaterra e Portugal, onde seu álbum foi lançado. Como você foi recebida nesses lugares?Você sabe que nos surpreendeu bastante? Foi uma turnê de voz e violão de sete cordas, tocado pelo meu irmão. Passamos por Roma, Lisboa, Inglaterra e Paris. Em todos os lugares teve retorno da imprensa, sempre shows lotados, com um público que sabia cantar as músicas! Foi muito legal.
Em agosto é a vez de Washington e Nova Iorque receber você e sua banda. Você já tocou nos EUA?Não, vai ser a primeira vez. É interessante tocar em países com outros idiomas, línguas difenrentes da sua. É assim que percebemos o poder da música. Mas o CD ainda não foi lançado lá.
E em dezembro tem show na Bélgica, num festival local. Sua carreira internacional está bombando!Pois é! Vamos rodar bastante por aí!
Pergunta clichê e necessária para encerrar a conversa: o que você gosta de ouvir nas horas vagas?No momento estou escutando bastante uma banda americana chamada Tune-Yards. Ouço muito também Pélico e Gui Amabis, o marido da Céu.

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